domingo, 8 de julho de 2012

Relatório Pedagógico: Arte Contemporâneanovas linguagens


RELATÓRIO PEDAGÓGICO

“Arte Contemporânea: novas linguagens”
Sônia Maris



RELATÓRIO PEDAGÓGICO

1. Primeiro encontro: 25/04/2012 (quarta-feira) das 11h15min às 12h
Primeiro encontro, muitas ideias e expectativas na cabeça. Um inevitável “friozinho” na barriga, como em uma pré-estreia teatral. Apesar de todo estudo, preparação, matérias selecionados com carinho, sala arrumada para recebê-los, o medo de que o planejamento não funcione como imaginamos ou  que os alunos não se interessem pela proposta é uma preocupação que não conseguia afastar da mente antes do início da primeira aula.

Classes empilhadas no centro da sala, como uma Torre de Babel, papel pardo cobrindo o chão, quadro branco com canetas coloridas, a caixa de som amplificada a postos, alunos a caminho. A mente fervilha “Um período parece tão pouco tempo. Será que vai dar tempo?” Essa angústia só se dissipou com a chegada dos alunos. O convite a andarilhar pelos caminhos que se oferecem está posto. O espaço se apresenta de forma transgressora. A música aguça os sentidos. Os olhos brilham arregalados, curiosos, intrigados. “O que está acontecendo?” O silêncio aos poucos dá espaço às perguntas, as risadas, todos falam ao mesmo tempo, ansiosos, agitados, como só os adolescentes sabem ser. Solicitados a observarem os percursos que traçaram no chão para chegarem ao ponto em que estão, eles novamente se surpreendem. “Como assim?” Olham para o chão e tentam descobrir suas pegadas, marcadas pela força de seu próprio peso e pela poeira grudada nas solas dos tênis. Mais um momento de excitação e euforia. Não conseguem separar o traçado dos seus passos dos colegas. Eles se cruzam, misturando-se numa trama divertida, alguns mais fortes, outros quase imperceptíveis, passos curtos, passadas largas, pés grandes e pequenos. A turma se diverte tentando descobrir por onde vieram e a quem pertence cada marca no chão. Questiono sobre suas escolhas, trajetos, caminhos que percorreram, sobre o que os torna individual e onde começa o coletivo. Solicitei que escrevessem no quadro essas sensações, impressões, questionamentos... O período de aula passou voando...A saída, as perguntas continuavam rondando as cabeças de todos...Pedi que eles tomassem notas das impressões pessoais que tiveram a partir dessa experiência e que nas próximas aulas falaríamos sobre isso.


2. Segundo encontro: 02/05/2012(quarta-feira) das 11h15min às 12h
Antes de iniciar a segunda aula, algumas dúvidas ainda me assombravam: Teriam os alunos aproveitado o momento de sensibilização? Conseguiriam fazer a relação entre a experiência vivida e a arte contemporânea? Não tem como antecipar essas questões; o jeito é seguir para a aula e comprovar os resultados com os próprios olhos.

Começada a segunda aula, já menos ansiosa, aguardei os alunos na sala de vídeo e apresentei o vídeo “O que é arte contemporênea?” (5’28”) e discutimos questões que o vídeo apresentava, como: O que é arte? Para que serve a arte?  A arte contemporânea tem alguma utilidade? O que a arte contemporânea tem a ver com o nosso cotidiano? Tentando fazer com que os alunos relacionassem a aula anterior com o que eles estavam discutindo agora.
Os alunos, no começo um pouco tímidos, quando começam a falar, ninguém consegue pará-los. Novamente, uma profusão de ideias, perguntas e respostas simultâneas, minha Babel estava materializada naquela sala de aula. Sugeri que tomassem notas do que achavam de mais significativo e do que os colegas falavam, além de suas dúvidas e inquietações, que isso ajudaria a organizar seus pensamentos. 

Para ajudar a explicar o inexplicável, me socorri em outro vídeo (12’) que trata do mesmo tema, que me pareceu apropriado no momento, “Isso é arte?” itaucultural, da coleção arte na escola, que traz, além de imagens da arte contemporânea, trechos de uma palestra muito interessante do professor Celso Favaretto. Creio que esse documentário enriqueceu muito a nossa discussão. Todos ganharam com a apreciação desse vídeo. Creio que principal função da arte, que é a de ensinar a ver e sentir de outra maneira, foi assimilada por todos. Ao fim da aula, os alunos já estavam se achando os mais contemporâneos da escola.

3. Terceiro encontro: 09/05/2012(quarta-feira) das 11h15min às 12h
A terceira aula também foi realizada na sala de vídeo. Para esta aula, foi preparada uma seleção de imagens (link nas referências) dos artistas contemporâneos (Helio Oiticica, Chisto e Jeanne-Claude, Nuno Ramos, Eduardo Srur, Nelson Leirner, Tunga, Cildo Meireles) com sua produção mais significativa. O convite era para apreciar as obras e conhecer um pouco das diferentes poéticas de cada um dos artistas que trabalhavam com arte contemporânea, muito especialmente com as instalações, foco de atenção principal. Partindo do conceito já internalizado de que arte não é cópia, mas criação de algo novo, que pode se apresentar através de diferentes linguagens (verbais e não verbais), aguçando nossos sentidos (visão, olfato, tato, audição) e servindo de meio de comunicação e expressão artística, partimos para essa aventura. Falamos sobre as obra, os artistas, sobre os processos de criação, os materiais utilizados, os resultados que obtiveram, as motivações dos artistas para escolher determinados temas e poéticas, os suportes que cada um deles utilizou em suas criações. Nessa aula, a partir de suas anotações e interesses, os alunos já puderam escolher o artista e a linguagem (videoarte, instalação, performance, intervenção...) que pesquisariam e produziriam o projeto com seus grupos. Para essas escolhas eles poderiam buscar as referências nos sites sugeridos na listagem que eles receberam ou ainda buscar outras. A definição final somente seria comunicada ao professor na aula seguinte.

4. Quarto encontro: 16/05/2012(quarta-feira) das 11h15min às 12h
O quarto encontro foi totalmente dedicado a exploração e desenvolvimentos dos projetos de cada grupo, em sala de aula. Já com seus artistas e linguagens praticamente definidos, a pesquisa se deu dentro e fora da sala de aula. Muitas dúvidas, os grupos demoraram muito tempo para decidir-se por um ou outro artista.
Os grupos formados ficaram muito desequilibrados, como seria de esperar em uma turma com um número tão expressivo de alunos. Havia três grupos bastante ativos e que tinham bastante clareza do que gostariam de produzir; e, outros que não tinham ideia de por onde começar. Dos grupos que já tinham algo alinhavado: o primeiro grupo era imenso, muitos componentes, alguns já com alguma experiência em teatro, queria fazer uma performance com fantasias assustadoras no meio pátio, causando espanto em todos. Optaram por provocar o estranhamento. Outro, claramente inspirado pelo Christo e a Jeanne-Claude queria empacotar algumas árvores, relacionando isso ao meio ambiente degradado. Sua opção clara foi a do envolvimento político, da denúncia ecológica. Um terceiro grupo, trabalharia com arte conceitual, numa inspiração que misturava Cildo Meireles, Vik Muniz e Eduardo Srur. O espaço re-significado, o objeto cotidiano reinventado com materiais inusitados, insólitos. Esses grupos já partiram para sua pesquisa e produção de forma bastante autônoma, sem que eu precisasse interferir ou ajudar muito.
Os demais grupos estavam muito perdidos e precisaram de atenção redobrada. A ideia que eles tinham de que arte tinha que ser “bem feita”, “bonita”, “bem acabada” para ter valor estava emperrando a sua criatividade. Foi bastante difícil convencê-los do contrário. Penso que mesmo tendo conseguido que eles se envolvessem e produzissem algo que falasse de seus desejos, medos, inquietações, ainda não tenho certeza se esse grupo entendeu que no processo, no envolvimento, na experiência estava a chave do seu fazer poético. Não conseguiam perceber como transformar o seu cotidiano em arte, nem a relação entre o que eles viam e faziam com alguma coisa que pudesse ser considerada arte. Difícil. No final da manhã, os grupos remanescentes formaram três grupos, que se uniram por interesses em comum. Um deles trabalharia com a ideia do registro fotográfico das artes que se utilizam do movimento (música, dança, teatro) através de uma instalação fotográfica. Outro grupo trabalharia com a questão da identidade e da memória, montando um vídeo com fotografias da escola, desde sua fundação até os dias de hoje. Um último grupo ainda está com dúvidas entre um vídeo de música cover ou uma instalação. Não quero pressioná-los, tenho tentado dar sugestões, apontar algumas possibilidades, mas eles são bastante tímidos, e não querem se expor. Vamos encontrar uma solução.

5. Quinto encontro: 23/05/2012(quarta-feira) das 11h15min às 12h

Dando continuidade a elaboração dos projetos, tivemos um encontro em sala de aula, com os grupos formados e trabalhando. As solicitações eram muitas; difícil trabalhar com 45 adolescentes ávidos por conhecimentos, em apenas 50 minutos. Muitas vezes pensei que não daria conta de tanta coisa. O mural que planejei foi descartado sumariamente, uma lástima. Pensei que a ajuda individual, por grupos, seria mais útil, e menos constrangedora, tendo em vista que um grande número de alunos estava com dificuldade no planejamento dos seus projetos.

6. Sexto encontro: 30/05/2012(quarta-feira) das 11h15min às 12h
No sexto encontro tive ajuda extra para atender aos inúmeros pedidos de ajuda, a tutora Marta Ramos Collares, esteve presente e pode constatar o quanto os alunos nos solicitam. Nessa aula, finalizamos os planejamentos, definimos os últimos ajustes para as instalações. Listamos os possíveis nomes para a mostra de trabalhos, ainda sem definirmos o nome final. Retomaríamos a votação em outro dia para que eles pudessem dar sua opinião e escolher o nome da mostra. Finalmente, o último grupo, dos indefinidos, que queria a princípio produzir um videoclipe com cover de músicas que eles gostam, acabou se decidindo por uma instalação que contemplasse uma problemática bastante séria na nossa escola, na qual os alunos tem uma certa parcela de responsabilidade, que é a questão da depredação das classes e do excesso de lixo produzido. A presença da supervisora que inspirou a garotada, e eles arregaçaram as mangas e se puseram a trabalhar. 

Imprevistos e acontecimentos que mudam nossos planos devem estar sempre no horizonte de qualquer professor, seja de que área for. No caso, do estágio não foi diferente. Houve uma mudança de horário, devido a trâmites administrativos/pedagógicos e o horário mudou, de quarta-feira para terça-feira.
Isso causou um certo transtorno, pois na terça-feira seguinte, que eu deveria entrar em aula, havia no calendário as Olimpíadas de Matemática.
Então, negociações entre supervisão, direção e professores da escola, para que o estágio não atrasasse, conseguiu-se chegar a um acordo e o período de Arte pode ser trabalhado no dia 12/06 (terça-feira), seguido de um período no dia 15/06 (sexta-feira).
Passadas essas negociações, os alunos foram avisados que teriam mais uma semana para o planejamento e finalização de suas instalações para a Mostra na escola.

7. Sétimo encontro: 05/06/2012 (terça-feira) mudou para 12/06 (terça-feira) das 11h15min às 12h, em função das Olimpíadas de Matemática
Tudo pronto para o grande dia da Mostra dos Trabalhos “A Arte é uma Viagem”. Os alunos estavam bastante seguros do que queriam mostrar aos colegas, mas o friozinho na barriga, aquele que todos nós sentimos diante de algo novo ou diferente, estava presente.
Desde cedo os alunos começaram a chegar com suas malinhas cheias de apetrechos, maquiagem, ferramentas, equipamentos os mais variados, tudo que eles consideraram fundamentais para que conseguissem montar sua exposição de trabalhos. Os grupos estavam bem organizados e pareciam saber exatamente o que fazer. Toda aquela “bagunça criativa” havia trazido todos até esse momento, e agora era só colocar em prática aquilo que foi pensando, planejado e criado por eles.
Gratas surpresas se materializavam a olhos vistos. Dificuldades momentâneas que surgiam eram contornadas com bom humor e um espírito de pertencimento ao grupo que recompensou cada minuto de dúvida que pudesse ter. Aos poucos, os espaços foram sendo tomados e seus trabalhos ganharam vida.
O professor é sempre suspeito a falar de seus pupilos, mas nesse caso muito especial, tenho que dizer que todos me surpreenderam positivamente, inclusive aqueles que estavam com bastante dificuldade de engrenar o trabalho.
Com o título de “A arte é uma viagem” os alunos expuseram suas produções, e ficaram a disposição, como verdadeiros artistas, falando com o público (colegas e professores) que queria saber o que estava acontecendo; muitos ficavam observando, perguntando curiosos, admirados, alguns apavorados, chocados... Outros passavam ao largo, sem se aproximar, mas com os olhos vidrados... (vejam as fotos). Sugeri que os alunos não dessem respostas diretas, que instigassem as pessoas a pensar sobre o que elas estavam vendo, que cada um pudesse ter a sua visão da obra e que a partir dessa leitura, eles poderiam dizer alguma coisa que contribuísse para o entendimento do espectador. A ideia do grupo de alunos de causar impacto, estranhamento e reflexão fui plenamente atingida. Alguns exagerados chamaram a mostra de Bienal (numa clara alusão a Bienal do Mercosul, com a qual muitos já tiveram contato). Achamos muito divertido tudo isso e ficamos até com uma pontinha de orgulho. Até por que não consideramos que um mostra de apenas uma turma devesse causar tanto impacto. Ficamos até imaginando como seria se toda escola pudesse participar e mostrar suas obras. Quem sabe? Temos o Projeto Ler é Arte em outubro e os alunos já estão pensando no que vão fazer para a Mostra. Não querem repetir. São realmente muito contemporâneos esses alunos.


Mostra de Trabalhos “A arte é uma viagem”

8. Oitavo encontro: 12/06/2012 (terça-feira) mudou para 15/06 (sexta-feira) das 11h15min às 12h

O que parecia um inconveniente, a troca de horário, acabou sendo uma coisa muito boa, pois ao poder fazer a auto-avaliação três dias após a mostra, foi providencial. Estava tudo “fresquinho” na cabeça dos alunos. Eles acabaram de vivenciar uma experiência única e as impressões que ficaram foram muitas. Eles próprios passam a comentar seus trabalhos e apontar os pontos fortes, os aprendizados, as curiosidades...
A Mostra de Trabalhos “A Arte é uma viagem” teve como pesquisadores-produtores-executores seis grupos: quatro deles trabalharam exclusivamente com instalação, um com videoarte e um com performance. Uma curiosidade a respeito da produção dos trabalhos foi a presença de nomes dos trabalhos em inglês: “Thriller” para nomear a performance inspirada nos parangolés do Oiticica, “The Crazy of Art” para a arte conceitual inspirada no Cildo Meireles, “Tree Alone” para a instalação inspirada no Christo e Jeanne-Claude; um dos grupos nomeu seu trabalho em latim: Hodiernis Art, com a instalação fotográfica sobre a arte em movimento; o grupo com “Consciência” criou uma instalação sobre o lixo e a depredação das classes escolares, dividido em três espaços diferentes: um simulacro de sala de aula reproduzido no palco central, um letreiro gigante no pátio, e um conjunto muito interessante de classe e cadeira, onde um cesto de lixo estava vazio com uma pá e uma vassoura ao lado e o lixo se acumulava a sua volta, em que o visitante-espectador era convidado a recolher o lixo do chão e colocar no cestinho, numa clara provocação para que o visitante deixasse a passividade e passasse à ação.
Quando questionados quanto a como a arte pode mudar a vida? Os alunos responderam da seguinte forma: “Através de novas ideias e novos conceitos” (A.C.), “Como uma forma de expressar nossos sentimentos e fazer protestos pelo que nós achamos certo” (B.) “Para tornar visível a real verdade das pessoas do mundo e a imaginação” (F.), “As vezes as pessoas se espelham ou se expressam na arte da qual foi proporcionada e assim podem tentar mudar o mundo” (G.), “Para tornar visíveis nossos sentimentos nunca descobertos” (L.), “A arte pode mudar até seu jeito de pensar. Pela arte podemos ter muitas oportunidades de conquistas e aprendemos muitas coisas com ela” (I.), “Serve para reviver as lembranças do passado e do presente que vamos levar para o futuro” (K.), “ A arte como desejo de mudar” (D.)
Novamente, a questão do tempo que nos consome. Muito do que foi vivido não pode ser traduzido em palavras por todos os alunos. A opção de trabalhar em grupo, se por um lado facilita a vida do professor, e oportuniza que os alunos se organizem de forma a deixar os que são mais falantes tomem a frente, por outro, deixa os mais tímidos sem voz. Isso é uma das coisas que devem ser corrigidas num próximo trabalho. Mais tempo e espaço, para dar voz aos invisíveis da sala de aula que, com certeza, têm muito a acrescentar.

5 ANÁLISE PEDAGÓGICA

“Desconfia daqueles que te ensinam
Lista de nomes, fórmulas e datas e que
Sempre repetem modelos de cultura
Que são a triste herança que aborrece.

NÃO APRENDE APENAS COISAS
Pense nelas
E constrói sob teu desejo
E imagens que rompam a barreira que asseguram
Existir entre a realidade e a utopia:

Vive num mundo côncavo e oco,
Imagine como seria uma selva queimada,
Detém o movimento das ondas nas arrebentações,
Tinge o mar de vermelho,
Segue algumas paralelas até que te devolvam
Ao ponto de partida,
Coloque o horizonte na vertical,
Faz uivar um deserto,
Familiariza-te com a loucura.”

 José Agustín Goytisolo

Trabalhar com educação é estar sempre se reinventando e aprendendo coisas novas. Com a prática de estágio 2 não foi diferente. Nossa experiência anterior é extremamente válida na hora de planejar e organizar as seqüências didáticas, mas de pouco valem se na hora de por em prática não conseguimos perceber se as escolhas feitas estão funcionando para aquela turma em especial.
Trabalhar com arte, muito especificamente, arte contemporânea foi uma experiência bastante especial. Primeiramente, pelo fato de que esse é um conteúdo que a professora de artes da escola dificilmente conseguia trabalhar, tanto por questões de currículo, como por questões de falta de entendimento de sua importância. Segundo, por que os alunos, nessa faixa etária - imersos em no mundo contemporâneo, sentindo-se muitas vezes incomunicáveis, em que a velocidade e o individualismo é quem manda, onde o mundo a sua volta causa estranhamento e espanto - estão mais do que prontos para enfrentar esse desafio.
Provocar os alunos a pensar e produzir arte como forma de desenvolver a sensibilidade e a expressão artística, fazendo com que eles pudessem experimentar os diferentes processos de criação no qual a ideia, a ação e o projeto é muito mais significativo do que o resultado final; levá-los a perceber que qualquer material pode servir para criar arte, que não precisamos de materiais caros e inacessíveis para expressarmos nossa criatividade; perceber como a arte pode estar conectada com a vida cotidiana de forma mais presente do que imaginamos.
A experiência proporcionada de leitura de imagens, pesquisa, apreciação, relacionando as obras com a vida cotidiana a partir das novas linguagens da arte contemporânea, do trabalhar coletivamente para um mesmo fim, das produções textuais que tinham por fim levá-los a pensar sobre a arte contemporânea possibilitou que os alunos se expressassem de forma mais livre e pudessem ver com outros olhos a arte contemporânea, tantas vezes incompreendida por falta de proximidade e desconhecimento de seus signos.
Mais do que adquirir informação, os alunos tiveram uma experiência ímpar para desenvolver sua percepção, observação, imaginação e sensibilidade para a arte contemporânea, através de exercícios de fruição, pesquisa e prática de forma contextualizada.










6 AVALIAÇÃO

Os Meus Pensamentos são Todos Sensações

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema IX"
Heterónimo de Fernando Pessoa


Impossível falar na prática de estágio sem pensar em estesia. Lembro das palavras da professora Umbelina, logo no início do curso, tentando fazer que víssemos além do visível, que percebêssemos todo encanto por trás da aspereza da vida. E eu, tola, sempre privilegiando mais a razão do que a emoção, cheia de certezas, achando que toda aquela conversa nunca me afetaria, que minha visão de mundo, real, concreto, cheio de dureza e injustiças, nunca seria afetada da forma poética como a professora tentava nos seduzir, encantada. Dizia ela, que deveríamos sim ter um pé na realidade, mas que nem por isso, deveríamos deixar de sonhar e de possibilitar que nossos alunos também pudessem sonhar e criar de forma mais prazerosa. Que pudéssemos ver com todos os sentidos, aguçados, atentos, sensíveis ao que o mundo oferece para quem está disposto a enxergar.

A experiência com o Estágio em Artes Visuais foi rica em vários aspectos: na questão de possibilitar uma maior aproximação com os alunos, adolescentes, que sempre gostam de novidade e sentem-se estimulados com propostas que provoquem seus sentidos, que desafiem sua capacidade criativa; no entendimento de que todos podem criar a partir de suas experiências pessoais obras que ultrapassam a lógica da sala de aula fechada, que se abrem para dialogar com outras pessoas, outras visões, que acrescentam e interagem com as mesmas; no desenvolvimento de um olhar contemporâneo sobre o mundo que nos cerca; e na capacidade que os alunos têm de sempre nos surpreender.

Sou professora de Língua e Literatura, e muitas vezes nos deixamos levar pela rotina, pelo material já cristalizado, pronto, acabado, e deixamos de perceber a riqueza que uma nova abordagem, um novo olhar sobre uma mesma coisa pode trazer. O aprendizado de valorizar o processo, a ação, o projeto - mais do que o resultado final - ficará para outras áreas do conhecimento em que atuo. Aprendizagens significativas que levaremos para o resto de nossas vidas.

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