segunda-feira, 27 de julho de 2009

Entre os Muros da Escola


Assisti ao filme “Entre os muros da escola” na minha própria escola o que por si só já seria uma experiência interessante. O mais curioso dessa pequena história é que estávamos em uma jornada pedagógica de rotina, em que as atividades deveriam ser basicamente de refletir sobre nossas práticas educativas. Pode parecer inacreditável o que vou dizer, mas, houve uma certa reação negativa ao filme. Muitos colegas não entenderam e até questionaram o porquê e de estarmos assistindo aquele filme e não algum outro “mais divertido”. A certa altura achei que alguém iria sugerir que discutíssemos o “preço do cafezinho” ou algo parecido.

Esse filme, apesar de não ser um documentário, tem uma linguagem própria de um documentário. Os personagens são professores, alunos e pais de verdade, interpretando papéis que poderiam ser os seus próprios. Claro que havia um roteiro a seguir, mas o diretor do filme deu uma certa liberdade para o improviso nas falas dos personagens. . A própria câmera se move como nos documentários, basta observar os movimentos que são meio inconstantes e interrompidos, com ângulos “estranhos”. Isso criou um filme bem mais realista do que estamos acostumados a ver.

O professor do filme é um professor de Língua e Literatura. Ele trabalha essas questões através da leitura do “Diário de Anne Frank” de forma a fazer com que o aluno entenda o uso da língua como expressão própria, legítima dentro de um país (França) composto por imigrantes de várias partes do planeta, que sofrem com a distância de suas pátrias, com as diferenças lingüísticas e culturais. A outra abordagem que ele faz, também dentro dessa questão da valorização da língua e da identidade, é o auto-retrato. Com essa técnica, oriunda das artes plásticas, o professor tenta regatar a auto-estima de seus alunos, tão massacrados social e culturalmente. Lembrem que a classe é formada basicamente por filhos de imigrantes árabes, chineses e africanos. Tentando fugir dos “achismos”, todo professor sabe que conhecer seu aluno e o meio em que ele vive, seu contexto, é o caminho mais fácil para que o aprendizado se desenvolva. Penso que foi isso que ele tentou fazer.

A discussão sobre as punições que deveriam ser aplicadas aos alunos “infratores” é sensacional. O professor, defensor da democracia e da liberdade de expressão de seus alunos, questiona tais punições e elas simplesmente não são alteradas. Há uma franca aceitação da manutenção das punições, por parte dos professores, é claro, sem que com isso haja de fato uma melhoria no comportamento dos alunos. Muito pelo contrário, quanto mais severas são as punições mais eles reagem a elas. Bom começo para uma bela discussão: Todo esse autoritarismo é mesmo necessário? Punições são necessárias? Punições levam a algum lugar? Não haveria outras formas de conseguir um comportamento adequado dos alunos?

Os limites simplesmente já não existem. Tanto os alunos como o professor ultrapassaram esse limite faz tempo. Há uma perda de controle generalizada. A tentativa de diálogo proposta pelo professor dá lugar a um bate-boca desrespeitoso que não contribui para a melhoria do relacionamento professor-aluno. Quantos de nós já passamos por semelhante situação: se diz uma coisa e outra é entendida? Não há como consertar esse tipo de coisa. O prejuízo é grande para todos os envolvidos.

Penso que enquanto não houver uma mudança significativa na sociedade, e dentro de cada um de nós, estaremos dando “muros em ponta de faca”. A sociedade, que também somos nós, já decidiu quais são as suas prioridades e nós não estamos nos encaixando nelas. A educação, embora seja almejada por todos e até enaltecida em belos discursos, não é prioridade de fato para boa parte da sociedade. Há um pensamento, quase que generalizado, de que devemos adquirir condições mínimas de sobrevivência, e se a educação formal contribui para isso ela é incluída, caso contrário é a primeira a ser descartada. Supérfluo. Luxo.

O conhecimento por si só já não interessa. Interessam os resultados. É o mundo globalizado. Mercantilizado. Tudo é transformado em produto. Tudo pode ser comprado. Só a nota interessa, o aprendizado pouco importa. Vemos isso a cada reunião de pais. Eles não estão interessados em saber o que seu filho aprendeu, eles querem saber se com “aquela nota” seu filho vai passar de ano. Triste, porém real. Um filme realizado do outro lado do planeta, em um país, dito de primeiro mundo, retratando alguns problemas tão iguais aos nossos. O que aprendemos com isso? Primeiro que não estamos sós, ou melhor, estamos sós em nossa luta, mas não somos os únicos lutando. Estranho isso. Pois é exatamente isso. O sistema engole o indivíduo, mas mesmo assim ele não deixa de lutar. Talvez haja sim uma pontinha de esperança. Que há uma revolução silenciosa que passa mais pela atuação individual de uns poucos professores que insistem em não desistir e, que apesar de tudo o que passam, não perderam sua humanidade, sua capacidade de errar e tentar novamente até acertar. E, contrariando tudo que os cerca, ainda acreditam na educação.

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